Cacique critica projeto que prevê a exploração de petróleo na costa do Amapá
Redação AgroDF
4 abril 2024
Duas lideranças brasileiras tiveram uma reunião histórica nesta sexta-feira (4) na Aldeia Piaraçu, terra indígena Capoto-Jarina, no Mato Grosso: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o cacique Raoni Metuktire, do Povo Kaiapó. No encontro, Raoni criticou o projeto de exploração de petróleo na costa do Estado do Amapá. “Eu sou pajé também, eu já tive contato com espíritos que sabem do risco que a gente tem de continuar trabalhando dessa forma, de destruir, destruir e destruir, com consequências muito grandes que não conseguiremos parar”, advertiu.
No encontro, Lula condecorou Raoni com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, maior honraria do Estado brasileiro, em reconhecimento às realizações do líder indígena em favor dos povos originários e da proteção do meio ambiente. “Raoni é uma liderança que inspira paz, sabedoria ancestral e profundo conhecimento sobre as necessidades da terra e a relação do homem com a natureza”, declarou Lula. “Por isso mesmo, atrai atenção e apreço de tanta gente em todo mundo, anônimos, intelectuais, celebridades nacionais e internacionais”.
Participaram do encontro outros caciques de diferentes etnias indígenas que também vivem no Parque Nacional do Xingu. “Hoje é um dia de homenagem, mas também de escuta das demandas de vocês e encaminhamento das soluções”, disse Lula. “Somos um governo que respeita os povos indígenas, reconhece seus direitos e trabalha dia e noite, noite e dia, para que eles sejam assegurados”.
Demarcação de terras
Um dos principais compromissos é a demarcação das terras indígenas. “Nós estamos fazendo um trabalho de fazer as pessoas entenderem o papel que os povos indígenas e seus territórios exercem para o Brasil e para o mundo”, declarou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que participou do encontro. “Por isso, a gente segue com a nossa bandeira de luta maior, que é a demarcação das terras indígenas”.
No atual governo, já foram assinados 13 decretos sobre demarcação de territórios indígenas e emitidas 11 novas portarias declaratórias, segundo a ministra.
Sucessão presidencial e petróleo
Raoni, hoje com 93 anos, aproveitou a oportunidade para falar sobre sucessão presidencial. Ao elogiar o compromisso do Governo Lula com os povos indígenas, pediu ao presidente que escolha um sucessor que dê continuidade às políticas indigenistas. “Eu quero pedir para o senhor pensar no seu sucessor, que tem que ser o próximo presidente, para continuar sua forma de trabalho, e defender nossos indígenas e territórios”, solicitou o cacique.
Raoni alertou o presidente sobre os riscos da exploração de petróleo na Margem Equatorial, região marítima do Amapá a 550 quilômetros da Foz do Rio Amazonas. O projeto é criticado por ambientalistas e indígenas, mas conta com autorizações preliminares do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em favor da Petrobras.
Para Raoni, a não exploração contribuirá para preservar o meio ambiente, reduzir a poluição e combater as mudanças climáticas. “Essas coisas, na forma como estão, garantem que a gente tenha o meio ambiente e a Terra com menos poluição e menos aquecimento”, ponderou o cacique, salientando que, como pajé, foi alertado espiritualmente sobre os riscos do projeto.
O Parque Nacional Indígena do Xingu ocupa uma área de mais de 2,6 milhões de hectares, em uma zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, onde vivem mais de 5,5 mil indígenas de 16 diferentes etnias e territórios: Yawalapiti, Aweti, Ikpeng, Kaiabi, Kalapalo, Kamaiurá, Kĩsêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Wauja, Tapayuna, Trumai e Yudja.
O convite para a visita do presidente ao Parque Nacional foi feito no mês passado, quando Lula recebeu lideranças da região no Palácio da Alvorada.