Ainda assim, em 2024 foram desmatados 1.242.079 hectares no Brasil
Edição AgroDF
16 maio 2025
O desmatamento no Brasil teve redução de 32,4% em 2024 em relação a 2023. No mesmo período, os alertas de desmatamento também caíram em 26,9%. Dos cinco biomas brasileiros, apenas na Mata Atlântica não houve queda, mantendo o índice praticamente estável em comparação ao ano passado. Ao todo, em 2024 foram desmatados 1.242.079 hectares e registrados 60.983 alertas no território brasileiro.
Na comparação entre os dois anos, o Pantanal e o Pampa foram os biomas que apresentaram a maior redução das áreas desmatadas. O Cerrado aparece em terceiro lugar, seguido da Amazônia e da Caatinga. A Mata Atlântica teve um crescimento de 2%.

Desmatamento por bioma
Em 2024, mais de 89% da área desmatada no país integram a Amazônia ou o Cerrado. As formações savânicas (árvores e arbustos) foram as áreas mais desmatadas e responderam por 52,4% de todo o desmatamento no país. As formações florestais representaram outros 43,7%.
Eis os índices de desmatamento em 2024 em relação a 2023 por bioma:
- Pantanal – redução de 58,6%
- Pampa – redução de 42,1%
- Cerrado – redução de 41,2%
- Amazônia – redução de 16,8%
- Caatinga – redução de 13,4%
- Mata Atlântica – crescimento de 2%
Área desmatada por dia
Em 2024, a área média desmatada foi de 3.403 hectares por dia e de 141,8 hectares por hora. O dia que registrou maior desmatamento no ano passado foi em 21 de junho, quando 3.542 hectares de vegetação nativa foram destruídos em 24 horas.
O Cerrado foi o bioma que registrou maior área desmatada no país com a subtração de mais de 652 mil hectares de vegetação nativa. Por dia, 1.786 hectares foram destruídos no Cerrado em 2024. Ainda assim, pelo segundo ano consecutivo houve redução do desmatamento no Cerrado.
Os maiores índices de desmatamento vinham ocorrendo nos estados da Amazônia até 2022. Já em 2024, tanto a Amazônia quanto o Cerrado registraram queda no desmatamento, mas ainda mantiveram percentuais anteriores a 2023. No ano passado, “o desmatamento do Cerrado foi maior que o da Amazônia”, conforme avalia Marcos Rosa, coordenador técnico do Mapbiomas.
Regiões mais atingidas
Quanto às regiões mais atingidas, nas áreas formadas pelo Matopiba (estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) o índice de desmatamento foi o maior do país: 42%, representando 75% da perda de vegetação nativa no bioma.
Já a Amacro (pólo agropecuário nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia) teve, pelo segundo ano consecutivo, queda no desmatamento. Foram registrados 5.753 alertas em 89.826 hectares no ano de 2024, o que representa redução de 13% em relação a 2023.
Estados e municípios
Os quatro estados do Matopiba e o Pará foram os que mais desmataram em 2024, representando 65% da área total no Brasil. Os estados que tiveram maior participação no desmatamento no país em 2024 foram: Maranhão (17,6%), Pará (12,6%) e Tocantins (12,3%).
Na comparação entre os anos de 2023 e 2024, os estados de Goiás, Paraná e Espírito Santo reduziram o desmatamento em mais de 60%. Já os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Acre foram os que apontaram maior crescimento.
Dos 5.565 municípios brasileiros, mais da metade (54%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2024. Os quatro municípios com maiores aumentos proporcionais são: Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal, todos no estado do Piauí.
Terras indígenas
Em 2024, o desmatamento em terras indígenas caiu 24%. Foram atingidos 15.938 hectares, o que equivale a 1,3% do total desmatado no país. A Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) se manteve no topo da lista da que mais desmatou, tendo perdido 6.208 hectares em 2024, o que representa um aumento de 125% em relação a 2023. Apenas 33% das terras indígenas brasileiras tiveram algum evento de desmatamento no ano passado.
Nas Unidades de Conservação (UCs), a perda de vegetação nativa alcançou 57.930 hectares, 42,5% a menos que em 2023. A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (PA), no bioma Amazônia, foi a que teve maior área desmatada no país, com 6.413 hectares.
Autorizações para desmatar
O Relatório Anual do Desmatamento traz ainda dados sobre autorizações concedidas pelos governos estaduais para supressão de vegetação. Foram analisados dados disponibilizados em portais de transparência ou após provocação dos órgãos ambientais das unidades federativas.
No ano passado, 43% da área desmatada teve alguma autorização para desmatar. O Cerrado foi o bioma mais atingido com desmatamento autorizado, com percentual de 66%. Na Amazônia, esse percentual foi de 14%.
O Maranhão, além de ter sido o de maior participação em percentual no desmatamento do país, também foi o que menos apresentou informações para transparência sobre as ações de fiscalização e também sobre as autorizações para desmatamento, segundo o Instituto Centro de Vida (ICV), colaborador do Mapbiomas.
“Depois de várias tentativas, chegamos a receber duas bases de dados, mas as informações de autorização, por exemplo, tinham restrição e nós não pudemos usar”, relata Marcondes Coelho, pesquisador do ICV. “O Maranhão segue com essa dificuldade de dar transparência a essas informações ambientais para o controle do desmatamento”.
Causas da destruição
Em uma análise mais ampla sobre a série histórica do Relatório Anual do Desmatamento, iniciada em 2019, os pesquisadores verificaram que o Brasil já desmatou 9.880.551 de hectares nesses seis anos, sendo que 67% desse total foram de vegetação nativa na Amazônia Legal.
O desmatamento ocorrido em razão de atividades agropecuárias responde por mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos, segundo o Mapbiomas. Mas outros fatores contribuíram tanto para a queda quanto para o aumento do desmatamento nos diferentes biomas.
O coordenador geral do Mapbiomas, Tasso Azevedo, faz a seguinte análise: “Nesses últimos anos, foram construídos planos de enfrentamento ao desmatamento para todos os biomas, o que não havia antes. Outra questão é que aumentou a participação dos estados nas ações em relação ao desmatamento, em termo de atuarem mais nos embargos e autuações feitas pelo Ibama. O terceiro fator é a questão do crédito rural. Houve um aumento do uso desses dados para a concessão de crédito rural”.
No caso da Mata Atlântica, os eventos extremos climáticos são apontados como a principal causa para a não redução dos desmatamentos, ao contrário do que ocorreu em outros biomas. “Se não tivesse os desmatamentos que foram computados por conta dos eventos extremos, o desmatamento teria sido 20% menor”, explica Azevedo.
A pesquisadora Natália Crusco, da equipe Mata Atlântica do Mapbiomas, esclarece que, no caso do Rio Grande do Sul, “todos os desmatamentos que estavam associados a eventos extremos aconteceram na Mata Atlântica e não nos Pampas”.
Segundo a pesquisadora, entre abril e maio de 2024, eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul resultaram em grandes perdas da vegetação nativa no estado. Foram registrados 627 alertas que totalizaram 2.805,8 hectares de áreas naturais perdidas.