CERRADO: METADE DO BIOMA SUMIU

Desmatamento do Cerrado ameaça abastecimento de água nas cidade Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Só 52% da vegetação nativa continuam em pé e 85% do desmatamento ocorreram em terras privadas

15 Setembro 2023
Redação do AgroDF

Apenas 48% da vegetação nativa do Cerrado ainda estão preservados. Ou seja, somente 52% do bioma continuam preservados, porém, seriamente ameaçados, uma vez 75% do Cerrado estão em propriedades particulares. Nos últimos 37 anos, 85% do desmatamento do bioma ocorreram em áreas privadas.

A constatação é do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipma), que atua também no Cerrado. Levantamento divulgado pelo instituto atribui o avanço acelerado do desmatamento ao Código Florestal, que permite ao proprietário de terras rurais da região preservar apenas 20% da vegetação do Cerrado.

Para a pesquisa, foram coletadas imagens geradas por satélites e analisadas pela organização ambientalista MapBiomas. Foram usados ainda dados do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Avanço da devastação

O levantamento do Ipam indica que 12% do Cerrado nativo estão em terras indígenas e em unidades de conservação. Outros 13% foram identificadas como “vazios fundiários”, áreas sem informações disponíveis.

Com 88% do bioma em terras particulares, o desmatamento tende a avançar ainda mais, segundo o Ipam. A situação foi atestada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente e de Mudança do Clima (MMA) em 5 de setembro, quando se comemorou o Dia da Amazônia.

Os dados do Inpe mostram que o desmatamento diminuiu na Amazônia e aumentou no Cerrado. Entre janeiro e junho de 2023, o desmatamento na Amazônia caiu 33,6% em relação ao mesmo período de 2022. Já no Cerrado, aumentou 21%, segundo o Sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Já a Universidade de Brasília (UnB) apresentou estudo mostrando que o Cerrado perde vegetação nativa cinco vezes mais rápido do que a Amazônia.

Mudança na legislação

O Ipam prevê que o desmatamento do bioma continuará em alta com o avanço do agronegócio em Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí. Nesses estados, entre 1985 e 2022, as áreas de pecuária e agricultura cresceram 252% e 2.199%, respectivamente, segundo o instituto.

Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam e coordenadora do MapBiomas Cerrado, considera preocupante que a vegetação nativa do bioma esteja concentrada em áreas particulares. Ela acredita que os movimentos políticos e sociais em defesa da preservação podem contribuir para que essas o bioma nessas terras não seja devastado. “O mercado tem sido cada vez mais cobrado por uma produção livre de desmatamento e com menor impacto ambiental”, ressalta.

Crise hídrica

Para o diretor do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, o atual ambiente político “não é tão favorável assim para uma mudança”. Acredita, porém, que “esse enfretamento tem custo muito menor do que o da falta d’água, que já é sentida”.

Pesquisas do Instituto Cerrados apontam que na região abrangida pelo bioma a vazão dos rios caiu 15,4% entre 1985 e 2022. O Distrito Federal enfrentou o problema entre 2016 e 2018, quando passou pela maior crise hídrica desde a inauguração de Brasília.

Salona defende não só mudanças no Código Florestal, mas também maior integração entre os órgãos públicos para proteger os biomas brasileiros. “Deveria ser uma agenda encabeçada por muitos ministérios e não só o do Meio Ambiente”, sugere. “O Ministério da Fazenda e demais ministérios que lidam com planejamento deveriam estar empenhados em garantir que o principal insumo da economia brasileira, que é a água, seja mantido. Para isso, é preciso manter o Cerrado”

Com informações da Agência Brasil
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