Área de floresta degradada chega a 3.000 km² em setembro e alcança 20.238 km² em 15 anos
27 outubro 2024
Redação AgroDF
A degradação da floresta amazônica, causada principalmente por incêndios provocados por ação humana e pela extração de madeira, atingiu 20.238 quilômetros quadrados entre 2009 e setembro de 2024, mês de maior índice de destruição. A área afetada equivale a 13 vezes todo o território da cidade de São Paulo.
Essa foi a maior área atingida por danos ambientais os últimos 15 anos. No acumulado de janeiro a setembro deste ano, a área desmatada foi de 3.071 km², a oitava maior da série histórica aferida pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Desde 2008, o instituto faz esse monitoramento com base em imagens de satélite. Com o auxílio dessa ferramenta, o Imazon acompanha o ritmo da degradação florestal e do desmatamento na Amazônia. Esses são processos de deterioração do meio ambiente, que podem ser causados por ações humanas ou naturais.
O desmatamento corresponde à remoção completa da floresta, enquanto a degradação é um dano causado por queimadas ou pela extração madeireira – não remove toda a vegetação, mas destrói parte dela. Ambos ameaçam espécies da fauna e da flora.
A seca de setembro
A pesquisadora Larissa Amorim, do Imazon, ressalta que “setembro costuma ser um mês marcado pelo aumento dessas práticas na Amazônia, por estar dentro de um período mais seco. Porém, os números registrados em 2024 são muito mais elevados do que os vistos anteriormente. E a maioria dos alertas ocorreu devido à intensificação dos incêndios florestais”.
Neste ano, setembro foi ainda o quarto mês consecutivo com aumento nas áreas degradadas, o que contribuiu para que o acumulado desde janeiro também fosse o maior dos últimos 15 anos, atingindo 26.246 km². Antes disso, o recorde para o período era de 2022, quando a degradação alcançou 6.869 km².
A pesquisadora alerta que, como consequência do alto pico de degradação, importantes rios da Amazônia secaram. Para o Imazon, esse cenário de degradação resulta do aumento das queimadas causadas pela ação humana e favorecidas pela seca severa na região.
Pará é mais atingido
Dos nove estados que compõem a Amazônia Legal, três concentraram 83% de todo o desmatamento identificado em setembro. O Pará liderou com 52% do desmatamento, seguido pelo Amazonas (16%) e pelo Acre (15%).
Sozinho, o Pará concentrou 57% das áreas de florestas degradadas na Amazônia em setembro deste ano. A degradação passou de 196 km² em setembro de 2023 para 11.558 km² no mesmo mês de 2024, área quase 60 vezes maior.
No Pará estão sete dos 10 municípios mais atingidos na região. Entre eles estão São Félix do Xingu (3.966 km²), Ourilândia do Norte (1.547 km²) e Novo Progresso (1.301 km²). Já entre as dez terras indígenas mais desmatadas, três estão integralmente no Pará e outras três têm parte da sua área no estado.
“No mês de setembro, o território paraense liderou o desmatamento destruindo uma área correspondente a 970 campos de futebol de floresta por dia”, coordenador do programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, Carlos Souza Jr.
A destruição, segundo ele, impacta os municípios, alcançando assentamentos, unidades de conservação e terras indígenas neles existente. “Por isso, é urgente investir em ações eficazes e integradas que protejam a região, como o investimento nos órgãos ambientais de fiscalização”, defende Carlos Souza.
Destruição em outros estados
Depois do Pará, em volume de áreas degradadas em setembro estão Mato Grosso (25%), Rondônia (10%), Amazonas (7%). Em Rondônia, a degradação passou de 50 km² em setembro de 2023 para 1.907 km² no mesmo mês de 2024, o que representa alta de 38 vezes.
“Historicamente, no período de setembro, Mato Grosso costumava liderar como o estado que mais degradava a Amazônia”, salientou Carlos Souza. “Porém, em 2024, o Pará surpreendeu com números muito altos. Ainda em setembro, foi decretada situação de emergência e ficou proibido o uso de fogo, mas precisamos que essa decisão seja acompanhada de fiscalização e responsabilização dos culpados para que seja mais eficaz”.
A destruição, segundo ele, impacta os municípios, alcançando assentamentos, unidades de conservação e terras indígenas neles existente. “Por isso, é urgente investir em ações eficazes e integradas que protejam a região, como o investimento nos órgãos ambientais de fiscalização”, defende Carlos Souza.
Terras indígenas
A degradação em reservas indígenas, principalmente no Pará, preocupa ainda mais o Imazon. O território paraense concentra sete das 10 unidades de conservação mais degradadas no período. As quatro primeiras do ranking são a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu (1.030 km²), a Flona do Jamanxim (670 km²) a APA do Tapajós (165 km²) e a Flona de Altamira (124 km²).
Entre as terras indígenas, a Kayapó segue pelo segundo mês consecutivo como a mais degradada, com 3.438 km² afetados. O território concentrou 17% de toda a área com degradação na Amazônia em setembro, conforme o Imazon.
“A permanência dessa terra indígena entre as dez com as maiores áreas degradadas é um forte indicativo de que as medidas para conter o fogo na Amazônia não estão sendo suficientes”, criticou Larissa Amorim. “A presença desse problema ambiental nas áreas indígenas e unidades de conservação ainda compromete diretamente a biodiversidade local, ameaçando tanto a fauna quanto a flora, e representa um impacto negativo no modo de vida, na subsistência e na saúde das populações tradicionais”, completou.
Desmatamento
O desmatamento na Amazônia registou, em setembro de 2024, o quarto mês consecutivo com alta, após 14 meses corridos de redução de devastação na região. No mês, um território de 547 km² foi desmatado, o que significa a perda 1.823 campos de futebol por dia de floresta, destacou o Imazon. A área foi 0,2% maior do que em 2023, quando foram degradados 546 km².
A maioria do desmatamento, em setembro deste ano, ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse (61%). O restante do desmatamento foi registrado em Assentamentos (30%), Unidades de Conservação (7%) e Terras Indígenas (2%).