CERRADO PERDE ÁGUA

Em 2024, a superfície de água natural das bacias do Cerrado ficou 28,8% abaixo da média histórica - Foto: Alex Pazuello/Agência Brasi

Em 40 anos, 91% das bacias do bioma perderam volume de água natural

Redação AgroDF
24 março 2025

Nas últimas quatro décadas, 91% das bacias hidrográficas do Cerrado perderam água natural, enquanto vem crescendo o número de reservatórios construídos pelo homem. Apenas em 2024, a superfície de água natural das bacias do bioma ficou 28,8% abaixo da média histórica (1985-2024), ocupando cerca de 1,85 milhão de hectares. No mesmo ano, a superfície de água antrópica, criada por influência humana (caso dos reservatórios), o espelho d´água total cresceu 11%.

Os dados são da rede MapBiomas Água, integrada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e foram divulgados dentro da programação do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. O mapeamento mostra que a redução do volume de água afeta a irrigação de áreas agrícolas do Cerrado, que concentra 60% da produção nacional e metade da agricultura irrigada do país.

A diminuição afeta também o escoamento de água natural para outros biomas, como o Pantanal, que mais sofreu com secas ao longo da série histórica. Por conta dessa redução, pelo menos 68 milhões de pessoas que vivem nas áreas abrangidas por essas bacias do Cerrado correm o risco de insegurança jurídica, conforme análise do Ipam.

 Bacias mais prejudicadas

As cinco bacias hidrográficas que mais perderam superfície de água natural estão na região do planalto do Alto do Rio Paraguai, na conexão entre o Cerrado e o Pantanal, segundo a pesquisa. “Essa região abriga as nascentes dos principais rios que regulam os pulsos de inundação no Pantanal”, explica  Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam e da rede MapBiomas. “A diminuição na superfície natural de água é crítica para o funcionamento dos dois biomas”.

A expansão da agropecuária aumentou nas últimas décadas na região do Alto Paraguai, o que teria afetado a redução de água natural. Por causas dessas atividades, atualmente apenas 41% da região está coberta com áreas naturais, segundo Conciani.

Já a bacia do Rio Nabileque apresenta a maior perda percentual em relação à média histórica. Localizada no encontro com a Planície Pantaneira, perdeu 90% (-73,2 mil hectares) de superfície de água natural entre 1985 e 2024.

Na sequência das perdas estão: bacia do Rio Negro de Mato Grosso do Sul (redução de 88%, -70,4 mil hectares); bacia do Rio Paraguai (redução de 71%, -235 mil ha); bacia do Rio Miranda (redução de 70%, -11 mil ha); e bacia do Rio Madeira (redução de 65%, -50 mil ha), esta última na divisa com o bioma Amazônia.

Reservatórios e hidrelétricas

Enquanto a água natural do Cerrado vai diminuindo, a área de água armazenada artificialmente continua crescendo. Em 2024, 68,5% das bacias compreendidas pelo bioma ganharam superfície de água por influência antrópica (humana). Esse crescimento é representado pela construção de hidrelétricas e grandes reservatórios, como a hidrelétrica Serra da Mesa, no curso do Rio Tocantins, em Goiás.

Julia Shimbo, pesquisadora do Ipam e coordenadora científica do MapBiomas, alerta: “Apesar de terem seu nível controlado, esses reservatórios são abastecidos por corpos hídricos naturais que sofrem efeito direto das mudanças no uso da terra e do desmatamento, além das mudanças climáticas”.

Segundo a pesquisadora, o aumento 11% na superfície de água total do Cerrado em relação à média histórica foi guiado, principalmente, pelo aumento em reservatórios (+54%) e hidrelétricas (+93%).

O perigo do desmatamento

A derrubada de vegetação nativa, especialmente em áreas próximas a rios, córregos e nascentes, altera a proteção dos ecossistemas aquáticos e a capacidade de autorregulação de enchentes e secas dos biomas.

Esses ecossistemas dependem dessa dinâmica para a manutenção do fluxo de irrigação e dos ciclos hidrológicos naturais. As consequências são impactos negativos imediatos e de médio a longo prazo, alertam os pesquisadores.

Entre esses impactos estão a redução da quantidade e da qualidade das águas para uso humano, afetando a segurança hídrica, a geração de energia, a agricultura e o abastecimento público.

“A retirada da vegetação provoca uma diminuição na recarga dos lençóis freáticos e na vazão dos rios, diminuindo assim, a disponibilidade de água”, explica Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM e coordenadora do SAD Cerrado.

Além disso, segundo a pesquisadora, “o desmatamento aumenta a erosão terrestre e sedimentação dos canais, impactando diretamente a qualidade das águas. Esse cenário agrava a segurança hídrica, energética e alimentar, que dependem da disponibilidade e qualidade da água para suas atividades”.

Para ela, “o controle do desmatamento no Cerrado, a implementação efetiva do Código Florestal e a proteção de áreas sensíveis, como Áreas de Proteção Permanentes que abrigam nascentes, são medidas para sanar a perda de água natural no bioma”.

Com informações do Ipam
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