Sebrae Mato Grosso quer ajudar empresas a enfrentar e a sobreviver diante das mudanças climáticas
ABNOR GONDIM
Especial para o AgroDF
16 maio 2025

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso (Sebrae MT) está criando uma espécie de “plano de sobrevivência empresarial”, que aponta a sustentabilidade como elemento crucial para a existência e o sucesso dos pequenos negócios. Foi o que informou o diretor técnico do Sebrae MT, André Schelini, ao falar sobre as perspectivas de oportunidades de negócios sustentáveis diante dos desafios causados pela globalização das mudanças climáticas.
O manual será produzido com a realização de diversas atividades que o Sebrae MT está desenvolvendo para equipar e preparar os empreendedores de pequenos negócios, prefeituras, instituições públicas e privadas, além do próprio Sistema Sebrae, ao enfrentamento desses desafios.
Uma dessas atividades foi o Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios (Ciclos 25), realizado nos dias 7 e 8 em Brasília, na sede do Sebrae Nacional, que incorporou o tema em sua própria agenda, consolidando parceria com o Ministério do Meio Ambiente.
Os debates do evento serão reunidos e disponibilizados no e-book Ciclos, que já será uma contribuição do Sebrae MT à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro em Belém (PA). Rumo à COP 30, o Sebrae mato-grossense, segundo Schelini, busca despertar o país para a importância da sustentabilidade nas estratégias de negócios, não apenas como um imperativo ético, mas como uma questão de sobrevivência econômica.
Após o evento, Schelini concedeu ao e-book Ciclos a seguinte entrevista.
Qual a importância do Ciclos 25 para os pequenos negócios?
O Ciclos abre a presença do Sebrae nesta agenda climática que o Brasil vai sediar neste ano, que é a COP 30. A própria Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos, já preconizava desde 2023, em seu relatório, que não dá para alcançar a sustentabilidade plena sem envolver os pequenos negócios.
No Brasil, quem representa os mais de 23 milhões de empreendedores brasileiros é o Sebrae. Então, nós entendemos a nossa responsabilidade e trazemos a convicção de que temos várias ações concretas para contribuir com essa agenda. Não só quando se fala em inclusão social, justiça climática, descarbonização, transição energética, mas, sobretudo, buscarmos oportunidade para os nossos milhões de empreendedores que depositam no Sebrae a esperança de empreender.
Para essa empreitada, parcerias já estão sendo formalizadas?
Durante o Ciclos, celebramos termos de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e com o Instituto Lixo Zero, o que, de certa forma, também cria e operacionaliza programas estaduais. O Mato Grosso é o primeiro Estado dessa parceria, por meio do Programa Estadual de Micro e Pequena Empresa por Lixo Zero Sebrae MT. Outro aspecto importante é democratizar informações para criação e capacitação de políticas públicas para implementação do programa Lixo Zero nas Cidades. Inclusive, acaba de ser realizado em São Paulo o Fórum Mundial da Economia Circular.
Qual a importância da Economia Circular, já que o grande público ainda a desconhece?
Isso é verdade. Nós realizamos estudo no ano passado em que mais de 80% dos empreendedores ouvidos demonstraram desconhecer o tema e o conceito da Economia Circular. Talvez não desconheçam as práticas porque, de certa forma, quando você trata a gestão de separação de resíduos, isso é uma prática. Quando você faz reúso de materiais também.
Separação de lixo é uma prática da Economia Circular?
Sim, separação de resíduos, separação de lixo, reúso de materiais, a redução do consumo… Isso tudo são boas práticas da Economia Circular. Outro aspecto importante é as cidades serem ambientes resilientes para que esses empreendedores possam empreender por meio de políticas públicas que incentivem essa Economia Circular. De nada adianta uma pessoa separar o resíduo e, de repente, o tratamento é misturado depois com a destinação do resíduo que é feito. Então, isso tudo são ações que nós entendemos e que nós podemos contribuir.
No Ciclos, o senhor anunciou que o Sebrae MT vai fazer “entregas emblemáticas” este ano. Que entregas são essas?
Vale a pena destacar as entregas que o Centro Sebrae de Sustentabilidade fará este ano no âmbito do Sistema Sebrae. Nós teremos a Política ESG (sigla em inglês de “Environmental, Social, and Governance” para “Ambiental, Social e Governança”) e de Sustentabilidade do Sistema Sebrae. São diretrizes para que o Sistema Sebrae possa atuar em prol desta agenda. No âmbito do Sebrae Mato Grosso, teremos a Política de Descarbonização. É o Estado pioneiro nesse compromisso. Não só incentivando o próprio Estado de Mato Grosso e outras instituições assemelhadas, mas o próprio Sistema Sebrae a seguir o caminho de ter suas políticas de descarbonização, o que envolve aquisições sustentáveis e traz o reconhecimento profissional dos fornecedores que aplicam as melhores práticas de sustentabilidade.
Há outras “entregas emblemáticas”?
Nós também vamos apresentar e entregar o Plano de Adaptação Climática. Na Conferência de Dubai foi criado o Fundo de Perdas e Danos porque existe já um entendimento que talvez nós não consigamos mais reverter. O que nós precisamos fazer agora, nesse momento, é nos adaptar. E precisamos reconhecer quais são os segmentos empresariais que mais irão sofrer com as mudanças climáticas. E eles vão ter que trabalhar a sua adaptação e a mitigação para que suas empresas possam sobreviver durante essas mudanças.
Quais medidas serão implementadas em parceria com o Ministério do Meio Ambiente para ajudar as pequenas empresas em relação às mudanças climáticas?
Primeiro aspecto: nós estamos falando de democratizar o conhecimento. Não só do ponto de vista de levar a conscientização por meio dos produtos e serviços que o Sebrae oferece para o desenvolvimento sustentável, mas também a nossa rede de atendimento. Hoje, o Sebrae está presente em mais de 3 mil cidades. É levar para toda essa rede os principais conceitos e as práticas para que nós possamos realmente contribuir, para que nós possamos ter mobilizações e pessoas podendo fazer a diferença nos seus municípios. Acreditamos que o Sebrae tem um papel social, tem uma meta coletiva. Vamos contribuir não só com as nossas ações de inovação, tecnologia, gestão e financiamento por meio das instituições financeiras, mas também levar o conhecimento para que as empresas possam aplicar essas práticas nos seus negócios.
Como fazer com que os bancos abram as portas para os pequenos negócios em projetos climáticos?
Já existem algumas linhas de financiamento e recursos disponíveis para as empresas que querem inovar e empreender por meio de ações e projetos que tenham uma pegada de carbono menor. São programas como o Catalisa, que é uma iniciativa do Sebrae, Ministério de Ciência e Tecnologia, CNPq, Finep, que incentiva startups e empresas que querem inovar no Brasil. Outro exemplo: o Tech Nova, que usa recursos de fundos para que as empresas possam modernizar processos produtivos e melhorar a performance e a produtividade.
A agenda ambiental não aumenta os ônus, os encargos e as preocupações dos empreendedores de pequenos negócios?
Quem determina as regras do mercado é o consumo, é o próprio mercado que determina. Então, o primeiro paradigma é que, para acessar mercado, a premissa é ser sustentável. A empresa que nasce tem que ser sustentável, porque é uma regra mercadológica. Não estou nem falando de regulamentação. Não estou falando de questões tributárias, fiscais, mas, sobretudo, o que o próprio mercado exige dela. Seja por um design de embalagem, seja por uma especificação nutricional do produto, seja dos produtos que vão ser adquiridos, se fazem parte do contexto daquela comunidade em que a empresa está inserida, se as pessoas trabalham, trabalham e moram ali próximo da empresa. Tudo isso são ativos que se incorporam a essa gestão sustentável da empresa.
Quando falamos das políticas de inclusão política, de governança, política, de aquisições, política de gestão dos resíduos, o impacto que a empresa tem naquele ecossistema, naquela comunidade e como ela também tem uma reputação e uma imagem perante à valorização da cultura com os atrativos de branding (gestão estratégica de uma marca para uma marca forte e relevante), da onde ela está? Para onde ela vai vender?
Quais as ações do Sebrae em Mato Grosso para viabilizar essa agenda ambiental?
A primeira delas é valorizar as melhores práticas. As populações que moram no Pantanal têm as melhores práticas, inclusive de combate ao desmatamento e combate às queimadas. Como elas vivem e dependem daquele bioma, daquele ecossistema, são essas populações que vão defender e que têm as melhores práticas de preservação ambiental. Assim como todo o pecuarista, o agricultor do nosso Estado depende da economia, que é baseada na natureza. Então, ele, sobretudo, não é o vilão. Ele é aquele que mais defende, protege a natureza, porque a sua atividade empresarial depende da natureza.
Dentro desse contexto, é preciso que essa página seja virada?
Não é só a página virada. É a página que já foi superada, porque Mato Grosso é referência no mundo, não só na produção de alimentos, mas sobretudo da tecnologia, da agricultura sustentável, da pecuária sustentável, agricultura regenerativa, agricultura de precisão, agricultura que utiliza menos defensivos, que utiliza os próprios recursos naturais, controle de água, utiliza o mínimo possível a água para irrigação, porque nós utilizamos as melhores práticas em que o próprio mercado exige das empresas. Nós não seríamos um Estado exportador de alimentos se não cumpríssemos as regras de mercado para acessar os mercados mais sofisticados: mercado europeu, mercado asiático, o mercado norte americano.
Qual a contribuição do Mato Grosso para a agenda ambiental?
Mato Grosso é o terceiro Estado em tamanho da Federação. É um Estado que contribui sobremaneira para o superávit da balança comercial brasileira. É um Estado que é responsável pela segurança alimentar do planeta. Preservamos os três biomas do Estado: o Pantanal, o Cerrado e o bioma amazônico. Mais de 60% da cobertura vegetal do Estado são de floresta nativa. O Mato Grosso é responsável por metade das espécies de aves do Brasil. São mais de 2 mil espécies de aves. A população de Mato Grosso é uma população pequena em quantidade, mas é uma população grande porque pensa grande para o seu Estado, acredita no Estado. E é isso que move o nosso Mato Grosso.