Museu mostra a importância ecológica de um dos alimentos mais populares do Brasil
ABNOR GONDIM
Especial para o AgroDF
21 março 2025
Cerca de 300 participantes do 1º Seminário de Carbono da Amazônia tiveram a oportunidade de conhecer, nos dias 20 e 21 de março, em Belém, uma exposição do Museu da Mandioca sobre experiências ecológicas realizadas com um dos alimentos mais populares do Brasil.
A comunidade afrodescendente ligada ao Museu da Mandioca, a 40 km da capital paraense, já adota práticas voltadas à neutralidade de carbono e acompanha experimentos para ampliar o uso do alimento na indústria, como na nutrição animal.
Para o diretor do Museu, Antônio Freitas, a iniciativa, lançada em 2023, reflete “um esforço ativo em integrar práticas agrícolas e culturais à luta global contra as mudanças climáticas, servindo de inspiração para outras iniciativas na região”.

Fibras e proteínas
No seminário, foram apresentados estudos da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) sobre o uso da mandioca na nutrição animal. “Tais pesquisas têm permitido inferir que [a mandioca] é um alimento significativo e com resultados promissores ao ser incluída na dieta de frangos de corte e poedeiras”, afirma um trabalho acadêmico.
Coube ao coordenador do Grupo de Estudos de Ruminantes e Forragicultura da UFRA, Jorge Azevedo, fazer o convite para a montagem da exposição itinerante do Museu em frente ao local do seminário, na Universidade Federal do Pará, em Belém.
A mandioca é “fonte de fibras e proteína para os animais”, afirma um banner exposto na exposição, referindo-se à parte aérea (caule e folhas), à raiz e à casca do alimento. A exposição conta com o apoio de instituições científicas renomadas, como a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A programação contou com pesquisadores, professores, estudantes e profissionais de diferentes áreas, que discutiram um tema em comum: soluções para uma agricultura sustentável, que sirva como mitigadora de carbono na Amazônia.
Importância histórica
Depoimentos de visitantes destacaram que a exposição reforçou a importância da mandioca na formação da identidade cultural do povo paraense, nortista, amazônida e brasileiro.
Além disso, ressaltou-se a relevância da relação equilibrada entre o homem e o meio ambiente para garantir a continuidade não apenas dessa atividade humana, mas também a sobrevivência saudável do bioma amazônico.
Essa foi uma posição compartilhada por Denilson Silva, gerente estadual de Promoção da Igualdade Racial: “A exposição é um resgate histórico. Assegurar a nossa existência dentro dos territórios é muito mais saudável, porque uma comunidade não pode ter sua história apagada”.
Para a jornalista Vanessa Monteiro, da UFRA, a exposição realça a importância do alimento em suas variadas formas: “O Museu é extremamente importante para qualquer amazônida e qualquer pessoa do Brasil, para conhecer a comunidade afrodescendente e os usos da raiz na alimentação, na indústria, nos cosméticos e em uma variedade de produtos que podem ser desenvolvidos”.
Para a primeira secretária do Museu, Sigla Freitas, os visitantes reconheceram a mandioca como um dos maiores legados indígenas para a humanidade. Ela avalia a iniciativa: “Mais que um espaço cultural, o Museu da Mandioca da Amazônia busca se consolidar como um núcleo onde passado e futuro se entrelaçam no presente, proporcionando aos visitantes a oportunidade de dialogar entre os tempos. Esse encontro permite uma compreensão profunda da importância de resgatar e valorizar nossa história, fortalecendo a conexão com as raízes culturais e projetando um futuro mais consciente”.