INDÚSTRIA VERDE PARA O CERRADO

Novo modelo agrícola, além de fortalecer a economia, protegeria o bioma Cerrado - Foto: Fredox Carvallho/Agência Cora Colarina

Estudo prevê que adoção de modelo agrícola sustentável pode gerar de US$ 72 milhões por ano

 5 Março 2024
Redação AgroDF 

A adoção de um novo modelo agrícola de exploração do bioma Cerrado, com implantação de projetos de sustentabilidade, pode gerar U$S 72 milhões por ano na economia brasileira até 2030. Além de aumentar o faturamento, o modelo contribuirá para o equilíbrio do meio ambiente, impulsionar a produção sustentável de alimentos, gerar mais empregos, estimular o turismo rural e desenvolver indústrias verdes no país.

É o que prevê o estudo “Cerrado: Produção e Proteção”, apresentado durante o Fórum Econômico Mundial (FEM), realizado em janeiro na Suíça, mas que só agora ganhou publicidade no Brasil. O documento foi elaborado pela Systemiq, empresa britânica de consultoria de sustentabilidade, em parceria com a Aliança Floresta Tropical, grupo do FEM formado pelos três países que têm as maiores florestas tropicais do mundo: Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia.

O estudo foi elaborado com base no Plano de Transformação Ecológica do Brasil, produzido pela Systemiq. O documento objetiva estimular e subsidiar debates e ações para formulação de políticas públicas no Brasil. Busca envolver agentes do Governo Federal, produtores rurais, empresas do agronegócio, instituições tecnológicas, ambientalistas e comunidades tradicionais com foco na adoção de novo modelo agrícola no Cerrado.

O modelo proposto inclui a agrossilvicultura e a agricultura regenerativa, que criariam as condições essenciais para a produção de alimentos de forma mais sustentável, aumentando a produtividade e gerando mais empregos. “Um modelo que simultaneamente aumente a produção, melhore a biodiversidade e os ecossistemas e proteja as comunidades indígenas e tradicionais do Cerrado”, explicou Jack Hurd, diretor-executivo da Aliança Floresta Tropical.

 Potência bioenergética

O estudo aponta ainda que o Cerrado, além de ser uma potência na produção de alimentos, também tem enorme potencial para a bioenergia – energia derivada de plantas e outros recursos naturais. Essa fonte tende a desempenhar papel estratégico no futuro sistema energético global.

O Cerrado já abriga um terço das instalações de biogás do Brasil. Segundo o relatório, essa indústria pode ser ampliada de forma sustentável no Cerrado, o que poderia abrir oportunidades para o Brasil em mercados em crescimento, como o de combustível de aviação sustentável e hidrogênio verde.

Há, contudo, o risco de que a indústria da bioenergia abra portas para mais desmatamento, conforme o documento. Para evitar que isso ocorra, o estudo recomenda que os empreendimentos de bioenergia sejam acompanhados de medidas voltadas à proteção do Cerrado.

Desmatamento avança

O Cerrado é um celeiro global, responsável por 60% da produção agrícola do Brasil e por 22% das exportações mundiais de soja, mas recebe muito menos atenção e proteção legal do que a floresta amazônica. No ano passado, enquanto o desmatamento na Amazônia caiu 50%, no Cerrado aumentou 50%, segundo dados do governo brasileiro.

O desmatamento para a produção de soja, gado, cana-de-açúcar e milho já teria eliminado metade da vegetação nativa do Cerrado. Mantido os atuais índices de desmatamento, os ecossistemas que garantem o sucesso do agronegócio brasileiro de grãos e gado seriam fortemente abalados, resultando em grandes prejuízos econômicos e escassez de alimentos em todo o mundo, conforme adverte o estudo.

Crise hídrica

O documento lembra que pesquisadores já alertaram sobre a grave relação entre desmatamento e segurança hídrica do Cerrado, bioma considerado o berço das águas do Brasil. A destruição da vegetação nativa compromete a capacidade natural de absorção e distribuição da água, que chega a “viajar” centenas de quilômetros antes de ser aproveitada para uso humano, seja em consumo próprio, afazeres domésticos, geração de energia, produção industrial ou irrigação.

Desde março de 2023, cientistas vêm alertando para a redução do abastecimento e da qualidade da água em pelo menos 373 municípios da região do Matopiba, formada pelos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia. A região, abastecida por cinco bacias hidrográficas, concentra 74,5% do desmatamento no bioma em razão da forte expansão agrícola a partir da segunda metade dos anos 1980, especialmente no cultivo de grãos.

Liderança climática

O documento ressalta que, diante da realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em novembro de 2025 em Belém (PA), os olhos do mundo voltam-se para o Brasil. O país, segundo a Systemiq, pode se tornar um líder climático caso adote modelos de produção sustentáveis que desenvolvam a agricultura verde e protejam tanto a Amazônia quanto o Cerrado.

Patrícia Ellen da Silva, chefe do escritório da Systemiq no Brasil, ressalta que “com a presidência do G20 e a COP30 se aproximando, o país tem uma oportunidade única de se posicionar como líder em ações climáticas, revolucionando a forma como a terra é usada no Cerrado – um dos biomas mais importantes do mundo”.

Para a executiva, “o Cerrado deve estar no centro da transformação global dos sistemas alimentares e da produção de energia, bem como das estratégias e tecnologias de conservação da natureza”. Patrícia reconhece que essa não será uma tarefa simples. “Mas ao aumentar a conscientização sobre a importância do bioma e a conexão entre produção e proteção, este documento nos colocará no caminho para um Cerrado mais sustentável”.

 Com informações do Fórum Econômico Mundial
Saiba mais...
Pesquisar
CATEGORIA