Produtividade por empregado faz a Agropecuária se destacar na economia do país
ABNOR GONDIM
Especial para o AgroDF
15 março 2025
A produtividade por empregado, como ocorreu na Agropecuária, no período de 2020 a 2024, é vital para avanços nas atividades produtivas. Essa é a avaliação do empresário João Diniz, presidente da Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), entidade responsável pela pesquisa “Mercado de Trabalho e Produtividade”, lançada este ano.
“A produtividade é a alma do processo produtivo em qualquer setor e no Brasil estamos no limite, uma vez que, considerando a economia em geral, a produtividade por trabalhador, no final do ano passado, estava praticamente estagnada, com decréscimo de 0,1%”, destacou o dirigente empresarial em entrevista ao AgroDF.
De acordo com o estudo, a Agropecuária foi o único setor da economia que se destacou nesse item durante nos últimos quatro anos, com um aumento de 14,3%. Isso ocorreu por ter feito inovações em maquinário, insumos e digitalização. Em contrapartida, segundo a pesquisa, a indústria em geral e a produtividade por hora trabalhada caiu 1,7% de 2020 a 2024 e nos serviços recuou 1,0% no mesmo período.
Na avaliação de Diniz, o avanço da produtividade não perde importância nem por conta da queda de 3,2% verificada na Agropecuária em 2024 por fatores climáticos, especialmente em grandes lavouras, a exemplo da soja e do milho.
O setor de serviços, responsável por grande parte dos postos de trabalho, registrou uma queda de 9,1% na eficiência dos trabalhadores. Na indústria, a retração foi de 8,3%
Segue a entrevista:

Quais são as principais contribuições do estudo sobre Emprego e Produtividade divulgado em fevereiro pela Cebrasse?
Comumente, os estudos e debates a respeito do mercado de trabalho têm focado na evolução positiva do contingente de pessoas empregadas, com consequente redução do nível de desemprego. Esse é um aspecto envolvendo o fator trabalho. No entanto, é preciso olhar o que ocorre além da superfície.
A produtividade é um elemento fundamental na análise da atividade produtiva. É um fator determinante para a estabilidade de preços, a qualidade de vida das famílias e a eficiência das empresas. Portanto, o levantamento procurou contribuir para a discussão trazendo à tona o que podemos chamar de princípio vital do processo econômico, que é a produtividade.
O que levou Agropecuária a ter sido o único setor econômico com crescimento expressivo em termos de produtividade entre 2020 e 2024?
A Agropecuária teve aumento expressivo na produtividade por hora trabalhada e por empregado no período analisado. Trata-se de um segmento caracterizado por constantes inovações tecnológicas em capital (máquinas equipamentos e instalações) e em insumos (sementes, fertilizantes e defensivos), com consequente impacto na produtividade.
Durante a pandemia e no pós-Covid 19, algumas atividades do agro seguiram colhendo safras recordes e segmentos como o da pecuária aumentaram fortemente suas exportações. Esse quadro, combinado com a crescente informatização e digitalização de atividades Agropecuárias, permitiu elevar expressivamente a produtividade do setor.
Como são conceituados os termos emprego e produtividade no estudo?
O emprego se refere à evolução de pessoas ocupados em todos os segmentos da atividade econômica, contabilizando tanto os empregos formais com carteira de trabalho assinada e autônomos com CNPJ quanto os ocupados informais.
A produtividade se refere à evolução do valor agregado setorial a preços constantes pelas horas efetivamente trabalhadas ou pelo contingente de pessoas empregadas.
Há quanto tempo e por que a Cebrasse acompanha os itens de emprego e produtividade no país em todos os setores da economia, como o da Agropecuária, apesar de se tratar de uma entidade ligada ao setor de serviços?
O foco da Cebrasse são as atividades prestadoras de serviços, sobretudo os segmentos intensivos em mão de obra. No entanto, a entidade acompanha a evolução de indicadores fundamentais da economia, sejam eles relacionados ao setor público ou os que envolvem os diversos segmentos produtivos, uma vez que a atividade econômica é um complexo de vasos comunicantes.
Este levantamento da produtividade surgiu em função da ênfase que se dá constantemente à questão da redução do desemprego sem a análise mais esmiuçada dos efeitos dessa situação. A produtividade é a alma do processo produtivo em qualquer setor e no Brasil o que vemos é que estamos no limite, uma vez que considerando a economia em geral a produtividade por trabalhador no final do ano passado estava praticamente estagnada, com decréscimo de 0,1%.
O estudo envolveu todos os setores visando colocar essa questão em discussão, uma vez que com baixo desemprego e redução da produtividade, haverá pressão sobre a inflação e expectativas negativas em relação ao nível de emprego e nas margens de lucratividade setoriais.
O item Alojamento e Alimentação tem relação com o setor de agronegócios, mesmo sendo uma área mais voltada ao turismo e aos serviços de alimentação?
Por meio de uma matriz de interrelação setorial, produzida com dados das Contas Nacionais, podemos apurar quanto cada atividade da economia – seja Agropecuária, indústria ou serviços – consome em insumos de outros setores e para onde destinam suas produções.
O segmento de alojamento, por exemplo, tem uma interrelação importante com a produção in natura como as atividades de horticultura e frutas e na agroindústria com laticínios, carnes e panificação, por exemplo. Já no segmento de alimentação essa interrelação é significativa em setores como horticultura, café, arroz e óleos vegetais.
Em resumo: qualquer setor da produção tem algum grau de relação com os demais e isso torna muito importante conhecer tais vínculos produtivos e os efeitos que mudanças em outros setores podem gerar numa determinada atividade.
O setor de Alojamento e Alimentação teve o maior crescimento percentual de empregos, com crescimento de 48,13. Por que esses dois segmentos são analisados conjuntamente e não separadamente, uma vez nem sempre seus atores atuam de forma conjugada?
Os setores de Alojamento e Alimentação foram alguns dos mais afetados durante a pandemia da Covid 19. O isolamento social e a restrição de atividades atingiram em cheio esses segmentos.
A retomada das atividades no pós-pandemia gerou um grande impacto nesses setores. Ou seja, ambos os segmentos vêm se recuperando de perdas do passado. São atividades intensivas em mão de obra e que absorveram muita mão de obra nos últimos quatro anos, registrando ganhos de produtividade no período analisado.
O estudo agrega vários setores para permitir uma visão geral da questão do emprego e da produtividade da mão de obra. A desagregação das atividades de alojamento e alimentação está sendo preparada em outro estudo, que também envolve produtividade em um período mais longo que o do trabalho anterior e nele o setor de serviços será aberto em mais de 30 segmentos.
Há risco real de PIB menor e inflação se a queda na oferta de trabalhadores provocar mais despesas com salários e, consequentemente, nos custos das empresas?
Isso tende a ocorrer. Como apresentado no estudo, a produtividade total da mão de obra está praticamente estagnada no cômputo geral. Na indústria em geral, a produtividade por trabalhador caiu 1,7% de 2020 a 2024 e nos serviços recuou 1,0% no mesmo período.
A situação pressiona custos empresariais, pode reduzir o ritmo do PIB e impacta na inflação. A previsão de crescimento do PIB para o 2025 é de 2%, depois de três anos (2022 a 2024) de crescimento médio acima de 3%. A inflação ao consumidor tem projeção de 5,65%, nível bastante elevado, e a Selic pode fechar este ano próximo de 15%, o que tende a ampliar o desemprego.
De um modo geral, a queda na oferta de trabalhadores disponíveis vem pressionando os salários para cima. Quando a produtividade está estagnada ou decresce isso gera pressão sobre preços e margens das empresas.
A queda no desemprego tende a se ampliar este ano?
A expectativa é de desemprego em nível mais elevado este ano. A taxa de juro Selic em crescimento, consequência da inflação elevada, impacta negativamente e de modo mais forte em segmentos como o de bens duráveis, cuja demanda depende muito do crédito, e a expectativa é que com menor ritmo nesse segmento da produção menos pessoas permaneçam ocupadas ao longo de 2025.
Segundo o IBGE, no PIB de 2024, Agropecuária teve queda de 3,2% por causa, especialmente, de adversidades climáticas. Isso não contradiz com a conclusão da pesquisa da Cebrasse, que aponta que a Agropecuária apresentou a maior produtividade no período de 2020 a 2024?
A queda de 3,2% no valor adicionado da Agropecuária se refere ao ano de 2024 comparativamente ao ano de 2023, decorrente em grande parte dos efeitos climáticos em lavouras de grande peso, como soja e milho. Certamente houve queda na produtividade do agro quanto à área plantada. Em relação ao trabalho é preciso fazer um estudo a respeito. Pode ser que em relação ao fator trabalho a produtividade da Agropecuária tenha se mantido constante ou até aumentado.
O estudo elaborado para a Cebrasse levantou a produtividade em relação à mão de obra no período de 2020 a 2024. O trabalho teve como foco a redução na oferta da mão de obra e a situação da capacidade produtiva dos setores, o que, em caso de redução, pressiona preços e margens de lucratividade.
Resumindo: são aspectos bem distintos em termos de tempo abrangido e o recurso de produção considerado, não havendo contradição nos números apresentados.