TECNOLOGIA CONTRA INCÊNDIOS

Na sala de monitoramento, as imagens são analisadas em tempo real com a ajuda da inteligência artificial - Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

Inteligência artificial é a arma que o GDF vem usando para combater fogo no Cerrado

12 Agosto 2024
Redação AgroDF

 A inteligência artificial (IA) é a arma que o Governo do Distrito Federal vem usando para detectar focos, prevenir e combater incêndios florestais em território brasiliense. Graças a esse recurso tecnológico, é possível identificar com precisão se determinado foco é alarme falso ou se é fogo mesmo. Hoje, apenas 4% dos alarmes são identificados como falso-positivo, ou seja, 96% dos chamados não são de fato fogo de grandes proporções no Cerrado, segundo a Secretaria da Secretaria do Meio Ambiente e Proteção Animal (Sema), coordenadora do Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PPCIF), que utiliza a inteligência artificial para monitorar o bioma dentro do DF.

No monitoramento do Cerrado ainda são usadas imagens feitas por satélites e relatos de campos realizados por rondas de equipes do Corpo de Bombeiros do DF. Em 2023, foi criado o primeiro protótipo de monitoramento feito com inteligência artificial. O projeto foi viabilizado em 2021 após receber financiamento de R$ 700 mil do Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal [FAPDF), numa parceria entre o GDF, a Universidade de Brasília (UnB) e a Associação Giga Candanga, instituição de pesquisa idealizadora da proposta.

O monitoramento é feito 24 horas por dia com quatro câmeras instaladas em pontos estratégico da Torre de TV Digital, que fica numa das áreas mais altas do DF. Os aparelhos captam imagens aéreas das regiões administrativas num raio de 25 km da Torre Digital. Ao identificar um possível sinal de fumaça, as imagens reproduzidas são interpretadas pela inteligência artificial, que detecta se pode ser um princípio de incêndio florestal.

Tecnologia evita equívocos

O desafio é distinguir se é ou não fogo, pois as características do Cerrado podem levar a erro de interpretação. “Há muita poeira que pode ser confundida com fumaça”, ressalta Priscila Solis, coordenadora do projeto Sem Fogo-DF e professora do Departamento de Ciência da Computação da UnB. “Além disso, temos neblina, nuvens baixas e um solo que dá um reflexo muito forte podendo confundir também, gerando uma interpretação equivocada”.

Para evitar equívocos, entra em ação a IA. A tecnologia permitiu incluir mais uma etapa na verificação das imagens.  “Primeiro, são feitas a identificação e a detecção do fogo”, explica Priscila Solis. “Após uma análise, as câmeras dão um zoom no ponto identificado para interpretar com mais precisão. Se de fato for fumaça, a tecnologia realiza uma classificação de risco, que envia todas as informações para o painel do sistema, ao qual o Corpo de Bombeiros tem acesso, para dar andamento às ações de combate”.

Assim, com mais essa etapa de verificação de imagens, os chamados alarmes falso-positivos para incêndios foram reduzidos substancialmente. Com isso, além de proteger a fauna e a flora, reduzem-se os gastos com ações de combate ao foco. “Um incêndio de grande proporção gera gasto enorme para os cofres públicos, porque é necessário deslocar equipes, aeronaves e combustível, sem contar a fauna e flora afetadas”, ressalta Carolina Schubart, coordenadora do PPCIF. “O benefício que nos traz essa tecnologia é muito maior do que o investimento necessário para erradicar um incêndio. Não tem preço preservar o nosso bioma”.

Expansão do projeto

A luta, agora, é expandir o projeto para a região Norte do DF ainda neste ano. A ideia é instalar câmeras na Estação Ecológica de Águas Emendadas, em Planaltina, que é uma unidade de conservação própria do Distrito Federal e de relevante importância pelo papel ambiental que desempenha. Faltam, porém, recursos financeiros, segundo Carolina Schubart, para quem é benéfico para o GDF e para a natureza investir em tecnologias de prevenção a incêndios florestais.

O Corpo de Bombeiros não só defende a expansão do projeto como reconhece os benefícios trazidos pelo uso da inteligência artificial. “Antes, nós fazíamos rondas pelo DF em busca de incêndios. Hoje, esse trabalho continua, mas as câmeras nos mostram em tempo real os possíveis focos”, afirma o tenente Ramon Alves, do Grupamento de Proteção Ambiental do CBMDF. Dependendo do nível do foco, se tiver com muita fumaça, uma equipe de bombeiros é imediatamente acionada até o local, principalmente se for em área de preservação ambiental.

Tenente Alves: “As ocorrências chegam rápido porque são identificadas precocemente”. – Foto Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

Atualmente, o Corpo de Bombeiros conta com uma sala de gestão ambiental que funciona 24 horas por dia e é composta por três militares, que são responsáveis por analisar as imagens e fazer a gestão da ocorrência. O rápido tempo de resposta das equipes da corporação também são responsáveis por impedir o alastramento das chamas.

“As ocorrências chegam muito mais rápido porque elas são identificadas precocemente”, ressalta o tenente Alves. “A velocidade com que a gente recebe possíveis focos incide em uma maior área preservada de Cerrado, porque a nossa atuação efetiva impede que o fogo se alastre e queime mais áreas de preservação”.

Operação Verde Vivo

Todo ano, entre abril e outubro, entra em ação a Operação Verde Vivo, coordenada pelo CBMDF desde 1999. O programa consiste em reforçar ações para conscientizar, prevenir e combater as queimadas florestais, visando proteger a fauna, a flora e a população. Atualmente, a operação mobiliza 500 bombeiros, 27 caminhonetes, 24 caminhões-tanque, 22 caminhões de transporte de tropa, dois aviões e dois helicópteros, além de instituições parceiras.

Entre maio e julho deste ano, a Operação Verde Vivo já contabilizou 3.368 ocorrências relacionadas a incêndios florestais, estando dentro da média anual. Mas já houve anos em que mais de 10 mil ocorrências foram registradas, segundo o tenente Alves.

Hoje, o GDF conta com mais de 1.200 militares treinados em combate a incêndios florestais. Todo ano, o Corpo de Bombeiros realiza curso para formar militares especialistas nessas ações. Em 2024, mais 41 militares foram formados, o que torna o Corpo de Bombeiros do DF referência nacional em prevenção e combate a incêndios, sendo requisitado por governos de vários estados e até do exterior.

Com informações da Agência Brasília
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