Produção da fruta norte-americana atrai investidores e vira atração em Sobradinho
1º Abril 2024
Redação AgroDF
Há três anos, a família Alvarenga decidiu plantar em Sobradinho (DF) uma fruta típica da América do Norte: o mirtilo, mais conhecida como blueberry. A ideia era oferecer uma atração a mais para desenvolver o turismo rural na Rota do Cavalo, região de Sobradinho, dominada por aprazíveis chácaras.
Primeiro, a família estudou a planta e as técnicas de plantio. Há um ano, começou a plantar. Hoje, os Alvarenga têm 2 mil mudas plantadas de mirtilo em 2,5 mil metros quadrados. Agora, se prepararam para colher a segunda safra, que pode chegar a 48 toneladas. A produção e a colheita da fruta passam a ser atrativos turísticos na Rota do Cavalo.
O retorno dos investimentos é promissor em razão do alto preço da fruta no mercado. Em situação normal, cada pé produz quatro quilos de mirtilo ao ano. Em casas de produtos naturais e de frutas finas, o quilo do mirtilo chega a R$ 80, enquanto o do produto fresco é vendido a R$ 180. Assim, apenas uma tonelada vendida por essas casas pode render R$ 80 mil (congelada) ou R$ 180 mil (fresca).
Poucos produtores
Apesar das perspectivas promissoras, ainda são poucos os produtores de mirtilo no Distrito Federal: apenas nove estão cadastrados na Emater-DF. Em outubro de 2023, a empresa reuniu diversos agricultores e dirigentes de cooperativas e associações de produtores rurais.
O encontro foi para apresentar o projeto Rota da Fruticultura do DF e Entorno. Um dos objetivos do audacioso projeto: transformar a região num polo nacional de produção do mirtilo. A meta é plantar 6 mil hectares da fruta até 2030. Na ocasião, apenas 14 dos participantes demonstraram interesses.
A produtora Leandra Alvarega, junto com o marido Evaldo e a irmã Zuilene Soares, já estavam no caminho da produção de mirtilo quando conheceram o projeto Rota da Fruticultura. A família se animou ainda mais e fortaleceu os laços com a Emater. “Nunca fomos produtores”, conta Leandra. “Quando chegamos aqui (Rota do Cavalo), começamos a pesquisar, escolhemos a planta e buscamos apoio da Emater-DF”.
Fruta da longevidade
O mirtilo foi escolhido por ser uma fruta bastante apreciada em forma de doces, geleias, sucos e na preparação de drinques. Mais que isso: faz bem à saúde. “O mirtilo é a fruta da longevidade”, ressalta Zuilene. “Vários estudos mostram que auxilia no combate à depressão, diabetes e problemas cardíacos. Além disso, é uma fruta de valor agregado. Demanda pouca área e é bem valorado”.
O apoio técnico à família Alvarenga é dado diretamente pela agrônoma Clarissa Campos, da Emater-DF. Ela explica que não basta querer plantar mirtilo, é preciso conhecimento técnico. “Apesar de ser uma planta rústica e resistente, o mirtilo é delicado”, ensina Clarissa.
“É preciso ter uma estrutura adequada no solo”, ressalta. “A adubação é feita com água. Um dos gargalos é a colheita, feita à mão, com armazenagem em área fria logo depois”. Aí entra o trabalho da Emater-DF, que acompanha da produção ao escoamento, passando pelo manejo e a agroindústria.
O mercado brasileiro, segundo a agrônoma, tem grandes perspectivas de crescimento. Isso porque, o Brasil importa do Peru a maior parte dos mirtilos aqui consumidos. Apesar de ser uma fruta originária do Hemisfério Norte, algumas variedades se adaptam muito bem ao clima tropical. É o caso da biloxi e da emerald, cultivadas pela família Alvarenga.
Rota da Fruticultura
A Rota da Fruticultura é um programa criado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em parceria com diversos órgãos e instituições do DF e Entorno. O objetivo é elaborar estratégias para aumentar a produção e o fornecimento de frutas para mercados internos e externos, incluindo o mirtilo e o açaí.
Um dos desafios para cultivar o mirtilo: o alto custo de implantação, que ultrapassa R$ 300 mil por hectare. Mas as variedades cultivadas no DF agregam vantagens sobre as espécies produzidas nas regiões mais frias do país.
“A grande vantagem é a não competitividade com o mercado internacional, que colhe no frio”, aponta Firmino Nunes de Lima, pesquisador e consultor do Rota da Fruticultura. “Aqui, conseguimos frutos o ano todo”.