MAIS CAFÉ NA TERRA DA SOJA

Produção de café em Mato Grosso deverá atingir 270,9 mil sacas na safra 2024/25 - Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

Cafeicultura cresce em Mato Grosso, onde 300 novos negócios foram abertos em 2025

ABNOR GONDIM
Especial para o AgroDF
26 maio 2025

Mato Grosso, maior produtor de soja e milho do país, celebrou o Dia Nacional do Café, dia 24 de maio, com o registro de um crescimento notável dos negócios rurais e urbanos ligados à cadeia produtiva da cafeicultura. Agricultores familiares e experiências turísticas colocam a bebida mais consumida dos brasileiros nas suas pautas de prioridades.

Ao mesmo tempo, o consumo do produto ganha novos estabelecimentos em áreas urbanas. Somente neste ano, mais 300 cafeterias e lanchonetes que comercializam o produto foram inauguradas no Estado, líder do agronegócio brasileiro. Em vários pontos, brotam novos investimentos por mais goles para todos os gostos, inclusive para consumidores do exterior.

Até em uma livraria em Alta Floresta, no extremo norte estadual, a 830 km da capital, Cuiabá, o aroma do café se entrelaça com o cheiro de livros novos. Clientes, entre uma página e outra, degustam a bebida, muitas vezes sem saber que cada xícara conta histórias de resistência, inovação e futuro.

Nova tecnologia: plantas clonadas

Assim, aos poucos, desde 2020, a expansão da produção elevou Mato Grosso ao 9º lugar entre os maiores produtores. O impulso veio de cafezais clonais, onde as plantas são reproduzidas a partir de clones, ou seja, mudas geneticamente idênticas a uma planta-mãe selecionada. Daí colhe-se plantas uniformes, com alta produtividade, resistência a doenças e adaptação a diferentes climas.

Assim, aos poucos, a produção mato-grossense cresce e deverá atingir 270,9 mil sacas na safra 2024/25. Um feito notável para um Estado antes predominantemente associado às monoculturas de soja e milho. Somente em Alta Floresta, a colheita de 2024 superou 90 mil quilos de café, resultado direto de investimentos em tecnologia, assistência técnica e da coragem de quem semeia sonhos improváveis.

Gastronomia, Turismo e Desenvolvimento

O segmento cafeeiro vai além da produção, fazendo comercialização e gastronomia, seja através de cafeterias ou de experiências de Turismo Rural. Dessa forma, o café mato-grossense se revela uma ferramenta poderosa de desenvolvimento social e econômico, construindo pontes entre regiões, pessoas e saberes ao integrar a produção agrícola com a cultura, o turismo e o consumo consciente.

Essa é a avaliação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Mato Grosso (Sebrae-MT). De acordo com a superintendente do Sebrae/MT, Lélia Brun, a instituição atua estrategicamente para promover o desenvolvimento da cadeia produtiva, especialmente dos produtores de pequenos negócios, e fomentar as vendas nos segmentos varejista e gastronômico.

“O Sebrae Mato Grosso entende a importância do setor cafeeiro para o desenvolvimento local e para a economia do Estado”, assinalou. “A principal atuação do Sebrae é voltada a fortalecer este segmento e ajudar a tornar os pequenos negócios mais competitivos e sustentáveis”, afirmou.

Da roça à feira internacional

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o interesse do brasileiro pelo café produzido no país tem crescido, impulsionado pelo sabor e pela história de seu próprio território. Esse avanço é mais evidente entre os pequenos produtores, que investem em nichos, no cultivo agroecológico e na valorização das origens.

Casal Osvaldo e Ana Rossi: café com grãos selecionados fez sucesso na FIT Pantanal 2024 – Foto: Sebrae-MT

Entre os que conduzem essa mudança está o casal Osvaldo e Ana Rossi, da Associação Comunitária Rural Sol Nascente. Em 2024, eles participaram da FIT Pantanal, a Feira Internacional de Turismo realizada em Cuiabá. Expuseram no estande de Alta Floresta, levando amostras do Café Congens, cultivado por agricultores familiares, com ênfase em variedades 100% robusta,

“Foi emocionante ver as pessoas elogiando nosso café”, contou Osvaldo, com orgulho. “Durante o dia, recebíamos visitas no espaço da FIT para degustação e à noite, na Feira Estadual da Agricultura Familiar e Turismo Rural de Mato Grosso, vendíamos o produto. Foi como abrir as portas da nossa história”.

O sucesso foi tanto que, em 2025, o casal se prepara para participar com mais grãos selecionados e ideias renovadas. A entidade investiu em um equipamento completo, automatizando o processo de descascar, torrar, moer e embalar o café, resultando em maior capacidade e agilidade.

Turismo, biodigestor e fertilizante orgânico

Outra experiência do novo momento é a da Chácara Pedra do Índio, também em Alta Floresta. Sob os cuidados do produtor Adeildo Toninho, há visitas guiadas entre abril e julho, período de colheita.

O passeio inclui caminhada pelo cafezal, apresentação de técnicas agroecológicas, visita à estufa e ao biodigestor, onde se produz gás metano e fertilizante orgânico. O percurso pela chácara termina sob as sombras de um buritizal, com café moído na hora e servido ao lado de quitutes produzidos no local.

Toninho também participou da FIT Pantanal em 2024. “O nosso café foi bem classificado e elogiado na feira, e isso é resultado de uma produção orgânica”, celebrou.

 Vitrine estratégica

A FIT Pantanal 2025, que ocorrerá de 5 a 8 de junho em Cuiabá, se consolida como um palco de visibilidade para a agricultura familiar e o turismo de vivência. Paralelamente, a Expofit, realizada no Pavilhão das Nações, reúne produtores, artesãos e comunidades em um ambiente vibrante de trocas, negócios e cultura.

Para o diretor técnico do Sebrae-MT, André Luiz Schelini, o trabalho realizado pelo órgão em parceria com outras instituições tem sido essencial para capacitar produtores, abrir mercados e transformar pequenos negócios em grandes histórias.

Na avaliação de Schelini, a FIT é uma vitrine estratégica para os empreendedores. “Quando leva seu café para um evento como esse, o produtor rural está levando sua história, seu território e sua identidade”, analisa. “É assim que transformamos produtos locais em experiências culturais, gastronômicas e econômicas de alto impacto”.

Capital do Café

Shelini destacou a parceria firmada com a Secretaria Estadual da Agricultura Familiar (Seaf) para a promoção do polo cafeeiro de Colniza, quase na divisa com o Pará, a 1.065 km de Cuiabá.

O jovem município de 18 anos conta com 35 mil famílias de produtores rurais e 15 mil hectares de cafeicultura, onde a produção anual atinge cerca de 100 mil sacas. O vínculo com a cafeicultura é tanto que até no brasão oficial do município estão dois ramos de café.

Os governos estadual e municipal investem no café em Colniza, via programas de apoio aos produtores, como a distribuição de mudas e a instalação de sistemas de irrigação para a alta demanda de água das variedades clonais. Dessa forma, os produtores buscam aumentar a produtividade e a qualidade do café.

A Seaf desenvolve o Pró-Café desde 2015, que incentiva 500 produtores de 10 municípios da região, entre eles, Colniza. O programa conta com o apoio das secretarias municipais de agricultura, da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

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