É TEMPO DE FESTA E COMILANÇA

Comidas típicas das festas juninas: herança da mistura das culturas indígena, europeia e africana - Foto: Divulgação

Não só de quadrinhas e forró vivem as festas de junho, mês em que não podem faltar nos festejos deliciosos pratos típicos. 

 01 Junho 2024
Redação AgroDF

 Junho é o mês de festas e muita comilança de pratos típicos. Tem canjica, pamonha, munguzá, galinhada, bolo de milho e caldos. Mistura das culturas europeia, africana e indígena, que caracterizam a cultura brasileira. A bióloga Nathália Taniguti, em artigo ao portal Meu DNA Diz, faz uma viagem à origem do maravilhoso mundo da culinária das festas juninas, uma tradição brasileira que atravessa séculos. A equipe do portal AgroDF também pesquisou sobre os caldos mais servos nas festas juninas. Confira.

Milho, o rei da festa

milho é quase uma unanimidade nas festas juninas de todo o Brasil: pode ser como pipoca, pamonha, curau ou a própria espiga cozida. Mas esse cereal versátil faz parte da nossa história muito antes do surgimento das festas juninas.

1. Pipoca 

Evidências arqueológicas sugerem que a pipoca já era consumida pelos nativos americanos antes da chegada dos europeus. Os colonizadores descreveram a pipoca como um “salgado à base de milho que os nativos usavam para comer e até como forma de enfeitar o cabelo”.  A pipoca possivelmente era feita colocando a espiga de milho diretamente no fogo ou por métodos mais “sofisticados”, como numa panela de barro forrada com areia. Em português, a palavra pipoca tem origem no tupi-guarani e significa “milho arrebentado”.

2. Canjica ou mungunzá

Uma das comidas de festa junina mais comum, a canjica ou mungunzá é um prato feito com milho branco cozido com leite de côco, ou com leite e açúcar ou, ainda, com leite condensado. Segundo os historiadores, esse prato delicioso remete às nossas origens africanas, já que uma forma mais simples dessa comida provavelmente já era consumida pelas pessoas escravizadas nas senzalas.

3. Curau ou canjica nordestina

curau ou canjica nordestina é preparado com base em um creme de milho verde ralado, cozido, adocicado e que depois pode ser coberto com canela. Assim como outras comidas de festa junina, a sua origem pode ser um pouco difícil de estabelecer. Provavelmente esse prato teve inspiração na culinária africana trazida pelas pessoas escravizadas, já que kanzika é o nome de um mingau tradicional consumido em muitas regiões africanas; ou na mistura de um pudim de leite tipicamente europeu com o mingau de milho consumido pelos indígenas brasileiros. Outros pratos típicos feitos com milho são consumidos nas festas juninas brasileiras, como a pamonha e o bolo de fubá. A influência indígena, africana e europeia, principalmente dos portugueses, está presente em inúmeras dessas comidas de festa junina.

4. Paçoca de amendoim

O nome paçoca vem da palavra indígena pasoka e significa “esmagar com as mãos” ou “esmigalhar”, o que reflete o modo de preparo desse tipo de prato: os indígenas esmagavam farinha de mandioca com as mãos e faziam algumas misturas com outros alimentos, antes mesmo do período de colonização. Já o doce paçoca foi criado no período colonial brasileiro, com a chegada do amendoim trazido pelos portugueses e com a inspiração no modo de preparo de alimentos dos indígenas. O amendoim era torrado e socado até se tornar uma farofa, e depois eram adicionados sal e açúcar à mistura.

5. Pé de moleque

pé de moleque, originalmente feito a partir da mistura do amendoim torrado com a rapadura, foi criado no começo do século XVI com a chegada da cana e o início da produção de açúcar no país. Na Península Ibérica já existia um doce similar, feito com mel e castanhas, que provavelmente teve origem em um doce árabe. Aqui no Brasil, os portugueses trouxeram esse costume e misturaram o amendoim com a rapadura, criando o pé de moleque.

6. Arroz doce

arroz doce é um prato com duas possíveis origens: origem asiática ou persa. De uma dessas partes do mundo, esse prato, que pode ser servido frio ou quente, chegou à Europa e foi trazido ao Brasil pelos colonizadores. O arroz doce asiático provavelmente era cozido com leite vegetal e o persa cozido com leite de vaca, mel e especiarias. Na Europa, ele era considerado uma iguaria digna de ser consumida pelos mais nobres. O arroz doce é uma das comidas de festa junina mais versáteis. No Brasil, pode ser feito com leite de vaca, leite de coco, leite condensado e ainda incluir especiarias, como cravo e canela.

7. Bolo de mandioca

De origem tipicamente brasileira, o bolo de mandioca foi criado pela combinação de um ingrediente que era a base da dieta indígena, a mandioca (também chamada macaxeira ou aipim), com costumes da culinária que chegaram da Europa, como o de fazer bolos e tortas. No entanto, como a farinha de trigo (usada pelos europeus) não era um produto muito comum no Brasil, a mandioca passou a ser utilizada em seu lugar para fazer os bolos, dando origem a esse prato delicioso!

8. Cachorro-quente

salsicha que forma o recheio do cachorro-quente, uma das comidas de festa junina mais comuns, surgiu provavelmente em Frankfurt, na Alemanha, no final do século XVII, pelas mãos de um açougueiro.

Mas um ponto importante na história desse prato é a chegada da salsicha nos Estados Unidos, no final do século XIX, com os imigrantes alemães. Lá, a salsicha alemã começou a ser comercializada em um combo, com molhos e dentro de um pão, e se tornou sucesso absoluto. Com o passar do tempo começou a ser vendida nos tradicionais carrinhos de cachorro-quente em jogos e parques públicos. O cachorro-quente chegou no Brasil por volta do início dos anos 1920, quando um empresário começou a vender o lanche nos seus cinemas na cidade do Rio de Janeiro.

 9. Quentão

quentão foi trazido ao Brasil pelos portugueses, que eram acostumados a tomar uma bebida de vinho quente com especiarias e mel no frio europeu para se aquecerem. A bebida, chamada de mulled wine, tem origem no Império Romano. Aqui no Brasil, eles usavam as especiarias trazidas da Índia, açúcar (que era colocado no lugar do mel) e cachaça, que era uma bebida mais comum do que o vinho. Acredita-se que o quentão tenha sido criado no interior de São Paulo ou no interior de Minas Gerais. No Sul do Brasil, o quentão é feito com vinho, e é muito semelhante à bebida original consumida pelos portugueses na Europa. Em outros lugares do país, a bebida quente feita à base de vinho é chamada de vinho quente.

10. Pinhão

pinhão é um alimento brasileiríssimo. Ele é a semente da araucária ou pinheiro-do-paraná, árvore muito comum nos estados da região Sul do Brasil. Era um dos alimentos mais consumidos pelos indígenas que habitavam essa região e se tornou comum em festas juninas pelo Brasil afora. Diz a história que os colonizadores que chegaram ao Sul do Brasil em diferentes épocas aprenderam a comer pinhão com os nativos que habitavam essa região. Além de saboroso, o pinhão agrada a muitos gostos: seu consumo pode ser assado, cozido e até em farofas.

11. Arroz Maria-Isabel

Essa comida típica do Piauí, mas que pode ser encontrada em outras regiões do Nordeste e até em alguns lugares do Centro-Oeste, tem como base o arroz com carne de sol e pode ser acompanhado de farinha. Sua origem é cercada de mistérios. Alguns acreditam que tenha surgido como uma forma das mulheres conseguirem comer carne, na forma de pedaços misturados ao arroz, já que existia o costume dos homens se servirem primeiro e, muitas vezes, não restava carne na panela para as mulheres e crianças. Outra possível origem é a de que pessoas escravizadas de uma grande fazenda de pecuária que vendia couro de boi usavam a carne que sobrava para misturar ao arroz. O gado, bem como o hábito do consumo de sua carne e o uso de seu couro, chegou ao Brasil pelos portugueses, no século XVI. 

 12- Galinhada

Galinhada é um prato culinário  típico da culinária brasileira, mais especificamente dos estados de São PauloMinas Gerais (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) e Goiás. Dizem os historiados que o prato foi criado pelos Bandeirantes, que nas suas incursões pelo interior do Brasil produziam uma refeição fácil de ser feita durante as viagens. O prato é simples: pedaços de frango misturado a arroz cozido. O tempero leva açafrão (que dá a cor amarelada típica ao arroz), vinagrete (opcional e à parte) e, na versão paulista e mineira, tutu de feijão. A galinhada tipicamente goiana leva guariroba (um tipo de palmito amargo) e pequi.

13 – Canja de Galinha

Canja é uma sopa feita à base de massa. A sua principal variação é a canja de galinha, que tem na cultura popular brasileira uma forte crença nas suas propriedades medicinais. A canja de galinha é uma comida reconfortante, perfeita para dias frios e para fortalecer o corpo e a alma. Uma boa canja de galinha tem o poder de nos revigorar durante uma gripe e de acolher a família toda no jantar. Em Portugal, principalmente na região central do país, existe uma tradição de dar apenas canja às mulheres depois do parto durante algumas semanas. A canja é originária da China onde é chamada congee. O congee é consumido em quase todos os países asiáticos, onde pode levar diversos  ingredientes.

14- Caldos

Nas festas juninas, para afastar o frio, além da fogueira vai bem um bom caldo. Eis alguns que são muito servidos nas noites juninas.

Feijão preto batido, massado ou triturado.  Essa sopa vai bem sozinha e como acompanhamento para outros pratos. A receita leva cebola, pimentão verde e molho de pimenta, ou seja, quentura não vai faltar.

Delicioso, esse caldo tem a cremosidade que só a mandioquinha consegue oferecer. A receita é simples: leva apenas cheiro verde, alho poró e água, além da mandioquinha, claro. Mais uma ótima opção para veganos e vegetarianos.

O caldo verde é um tipo de sopa que tem como principais ingredientes couve e batata. Pode ser feito também com mandioca, mas existem outras versões como o caldo verde light, caldo verde com bacon, caldo verde vegetariano e caldo verde com chouriço. O caldo verde teve origem em meados do século XV e sua produção iniciou-se nas províncias do norte de Portugal, especificamente na região do Minho. A receita foi adaptada de acordo com as regiões em que era preparado. Trazido pelos portugueses, foi adotada pelos brasileiros. Nas festas juninas, não pode faltar no cardápio.

Com informações do portal Meu DNA Diz
Saiba mais...
Pesquisar
CATEGORIA