Hospital atende tamanduá e jabuti atingidos por queimadas na Flona de Brasília
Edição AgroDF
5 agosto 2025
Uma tamanduá-mirim e um jabuti. Estas são as primeiras vítimas de incêndios florestais no Cerrado, que chegaram e estão sendo tratados no Hospital Veterinário Público de Animais Silvestres (Hfaus) do Governo do Distrito Federal. Mas a tendências é que mais animais silvestres cheguem ao hospital diante do prolongamento da seca, o que cria cenário favorável ao aumento das queimadas no Cerrado.
O Hfaus foi inaugurado em março de 2024. Até maio de 2025, foram atendidos 2.511 animais silvestres, vítimas de motivos diversos, como atropelamentos e maus-tratos. Desses, 11 foram atingidos por queimadas: seis mamíferos, quatro aves e um réptil. Seis deles conseguiram ser reintroduzidos à natureza. Não há dados oficiais sobre quantos animais morrem todos os anos durante as queimadas no Cerrado e em outros biomas brasileiros.
O tratamento dos animais
A equipe do Hfaus trabalha não só para recuperar como para devolver à natureza animais feridos. É o que vem sendo feito com os dois animais resgatados na Floresta Nacional de Brasília (Flona). O quelônio chegou ao Hfaus com o casco e as patas queimadas, além de desidratado. Ele recebeu tratamento com pomadas especiais e vem se recuperando.
“Ele é um animal mais rústico, já está se alimentando e tomando banho de sol”, relatou o biólogo Thiago Marques, coordenador do hospital. “Estamos observando se haverá perda das placas ósseas, o que pode exigir reconstrução do casco com resina. Caso isso aconteça, fazemos a proteção para evitar infecções até que a carapaça se regenere naturalmente”.
Já situação da tamanduá-mirim é mais preocupante em razão da gravidade das queimaduras e pelo fato de ser um animal com o metabolismo mais lento e uma temperatura naturalmente mais baixa. O animal estava com 80% do corpo queimado, com bolhas e a pele descolando. Por conta da gravidade, foi adotado um tratamento inovador: aplicação de pele de tilápia, material que acelera a cicatrização de queimaduras profundas.
O material foi todo preparado pela própria equipe do Hfaus, que foi capacitada para confeccionar e aplicar a pele de tilápia em casos de regeneração de animais queimados. Com isso, o hospital reduziu custos na confecção do produto e deu agilidade na sua aplicação. “A pele de tilápia tem sido uma aliada importante no nosso trabalho”, ressalta Marques.
O tratamento vem dando resultado, mas o animal “ainda não está fora de perigo”, segundo o biólogo. Além da aplicação da pele de tilápia, os veterinários monitoram constantemente a hidratação e a temperatura corporal da tamanduá. O momento, agora, “é garantir o máximo de conforto e vigilância” ao animal, segundo Marques.

Perda do habitat natural
Sobre o número de animais atendidos em menos de dois anos de funcionamento do Hfaus, o biólogo identificou que a maioria dos animais atendidos nesse período foi vítima da perda do habitat natural. “Mesmo com apenas um ano e meio de existência, já percebemos que, na seca, há um crescimento expressivo nos casos — não só de queimaduras, mas de atropelamentos, maus-tratos, colisões com vidraças e fugas motivadas pela perda de habitat”, explica Marques.
O biólogo recomenda aos motoristas maior atenção ao transitar por vias próximas a parques e áreas de preservação ambiental, especialmente durante o período da seca. Muitos animais, para fugir do fogo ou da escassez de alimentos, acabam entrando em áreas urbanas, correndo o risco de serem atropelados ou machucados pelos moradores.
Áreas mais afetadas
A tenente Thays Gonçalves, do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), aponta que as áreas mais atingidas por incêndios no DF são a Flona e o Parque Nacional de Brasília. Apesar do monitoramento constante, essas áreas são alvos de incêndios criminosos ou não intencional.
As consequências das queimadas vão além dos danos aos animais: desequilibra o meio ambiente, afeta a cadeia alimentar, fragilizar as espécies nativas, prejudica, enfim, todo o bioma, já enfraquecido pela expansão da produção agrícola, conforme alertam os ambientalistas.
“Quando o animal não morre, muitas vezes perde a capacidade de sobreviver na natureza”, enfatiza a tenente Thays. “A gente já está tendo emergências climáticas por conta da ausência de florestas, lugares que antes eram preservados e agora estão devastados”.
SERVIÇO
Quem encontrar um animal ferido, a recomendação é evitar tocá-lo. Os órgãos competentes devem ser acionados. Eis os contatos:
- Polícia Militar: 190
- Corpo de Bombeiros: 193
- Brasília Ambiental (Ibram): 3214-5637
- Linha Verde do Ibama: 0800 61 8080
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