Agro do Brasil reage ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos
Redação AgroDF
10 julho 2025
É chantagem política a tarifa comercial de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump. A avaliação é de diversos analistas políticos e economistas entrevistados pela imprensa brasileira após o anúncio do presidente norte-americano.
A taxação, segundo esses analistas, visa enfraquecer os países que compõem o Brics, proteger as empresas de tecnologia digital dos Estados Unidos (as big techs), interferir na política e no judiciário brasileiro, além de tentar favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro, considerado inelegível e que responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de estado.
A chantagem do presidente americano, motivada por política, atinge os mais diversos setores da economia brasileira, em especial o agronegócio. Diversas instituições representantes do setor, como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), reagiram ao anunciado tarifaço. “Esta medida unilateral não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, em estrita conformidade com os melhores princípios do livre comércio internacional”, diz a nota da CNA.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) também reagiu, alertando que o tarifaço de Trump tornará o custo da carne brasileira tão alto que inviabilizará a venda do produto para os Estados Unidos. “A Abiec reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”, destacou a Abiec em nota.
A associação, na nota, defende o caminho da diplomacia. Diz a nota: “Estamos dispostos ao diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que representa a bancada ruralista no Congresso Nacional, engrossou as reações contra a decisão de Trump. “A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, aponta nota da FPA.
No documento, os parlamentares ruralistas defendem uma resposta firme e estratégica, ressaltando que “é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”. A FPA diz ainda que “reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas”.
Estados mais prejudicados
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás somente da China. Em 2024, as exportações brasileiras para o mercado norte-americano atingiram US$ 40,3 bilhões, já as importações de produtos dos Estados Unidos foram de US$ 40,6 bilhões.
Caso Trump mantenha a decisão, os estados que mais vão sofrer com o tarifaço serão São Paulo, Goiás e Minas Gerais – justamente os que mais exportam EUA carne bovina, café, açúcar, etanol e suco de laranja para aquele país.
Em relação à carne bovina, os EUA são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, depois da China. O mercado norte-americano importa 15% de todo o volume de carne bovina que o Brasil vende para o exterior, enquanto os chineses levam quase metade, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Apenas em abril de 2025, houve aumento de 500% nas vendas de carne bovina in natura, industrializada, miúdos e produtos salgados para os EUA.
No caso do café, o país governado por Trump é o principal destino das exportações brasileiras, respondendo por 16% das vendas em 2024 e 17% nos primeiros cinco meses de 2025, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Com o tarifaço, Minas Gerais será o estado mais afetado, uma vez que é o maior produto de café do país, devendo colher 26 milhões de toneladas do produto em 2025, o equivalente a 46,9% do total brasileiro, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Trump pode recuar
Os analistas avaliam que Trump venha a recuar, antes que a medida entre em vigor em 1º de agosto. Isto porque, Trump costuma rever suas decisões em questões econômicas bilaterais e também porque a relação comercial entre os dois países é bem mais favorável aos EUA.
Dados do próprio governo norte-americano mostram que o superávit no comércio de bens com o Brasil cresceu 31,9% em 2024, chegando a um saldo positivo para os EUA em US$ 7,4 bilhões. Este saldo é bastante superior ao registrado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que calcula em US$ 284 milhões o superávit a favor dos EUA em 2024. A divergência dos números estaria nas diferentes metodologias na coleta de dados.
Os números, contudo, reforçam a análise que o tarifaço tem, sim, motivação extremamente política. Na avaliação do professor de Economia da Unicamp, Pedro Rossi, não há racionalidade econômica na decisão de Trump. “Do ponto de vista comercial, não tem uma finalidade clara”, avalia Rossi. “O Brasil não é tão relevante para a economia americana, apesar de ser relevante em alguns setores. São arroubos políticos e o uso de um instrumento comercial para outros propósitos. Para ameaçar e tentar chantagear um país”.