Mercado de produtos orgânicos combate pobreza e fortalece agricultura familiar
ABNOR GONDIM
Especial para o AgroDF
9 dezembro 2025
O combate à praga das desigualdades no interior de Goiás, um dos maiores polos de agronegócios do país, está ganhando impulso por meio do trabalho do Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado (Cedac), organização não governamental (ONG) com sede em Goiânia.
O Cedac busca semear novas fontes de renda a agricultores familiares e comunidades tradicionais para que elas possam sair dos bolsões de pobreza e levar uma vida com dignidade. A entidade atende a mais de 7 mil famílias e, em 2026, vai ampliar sua atuação para a Amazônia e o Nordeste, devendo aumentar o atendimento entre 5 a 10%.
Na semana passada, a ONG obteve uma importante conquista para fortalecer o trabalho que faz: recebeu um trator para capacitar assentados em projetos de reforma agrária, agricultores familiares e comunidades tradicionais.
O equipamento foi doado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
Alternativa ao agronegócio
O Cedac foi criado em 2000 como alternativa ao avanço do agronegócio no Centro-Oeste. O foco da instituição é impulsionar o agroextrativismo sustentável e o fortalecimento socioeconômico de comunidades rurais e populações indígenas.
Além de Goiás, atua também no Distrito Federal e em mais quatro estados: Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Tocantins. Atualmente a instituição apoia atividades extrativistas em uma área de 1,8 milhão de hectares, o que corresponde a 3 milhões de campos de futebol. No DF, o Centro desenvolve ações em Brazlândia, um dos polos locais de agricultura familiar concentrado em cultivo de frutas e hortaliças, com destaque absoluto para o morango.
Focando no Cerrado, o Cedac defende a produção sustentável e, em seu site, alerta para o avanço do cultivo de grãos na região: “Apesar da sua importância, o Cerrado é o bioma mais ameaçado pela expansão do agronegócio baseado na monocultura empresarial, considerada a maior fronteira agrícola deste século, mantendo atualmente apenas 54,5% de sua vegetação nativa”.
Famílias atendidas
O trator enviado pela Codevasf chega em boa hora para fortalecer as atividades do Cedac. A máquina foi entregue na sede da instituição, às margens da rodovia BR-153, em Goiânia. A área do Centro abrange 20 hectares, o equivalente a 28 campos de futebol, onde são desenvolvidas ações que atendem a 36.270 pessoas, inclusive a 462 famílias indígenas.
Entre a população atendida estão moradores de 165 municípios dos Estados abrangidos e do Entorno do DF. No total, a entidade atua em 454 comunidades rurais e quatro territórios indígenas. A capacidade de atendimento deve ser ampliada no próximo ano.
O Cedac projeta inaugurar, em março de 2026, o Centro Nacional de Agroecologia e Sociobiodiversidade no Cerrado, Amazônia e Caatinga (Cnags), que tem a missão de “promover, apoiar e consolidar sistemas alimentares mais resilientes para a agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais nos biomas brasileiros”.

Expansão da Codevasf
A solenidade de entrega do trator contou com a participação de representantes de entidades agroextrativistas de Goiás, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e do senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), autor de emendas destinadas a fortalecer a agricultura familiar.
O senador lembrou que a Codevasf, criada em 1974 para atender aos Estados do Nordeste, tem tido papel importante no desenvolvimento rural de Goiás. Até 2017, a Companhia atendia apenas 136 municípios goianos. Desde 2020, com a sanção da Lei nº 14.053, todos os 246 municípios de Goiás passaram a ser atendidos pela empresa pública federal.
Após a mudança na lei, a Companhia já teria investido em Goiás cerca de R$ 1 bilhão, segundo o parlamentar, que foi um dos principais articuladores da ampliação da área de atuação da Codevasf. A doação de 150 tratores está entre os benefícios levados pela estatal a municípios goianos.
Ao destacar o impacto dos investimentos da companhia em Goiás, Vanderlan afirmou que o maquinário contribui para melhorar a realidade rural. “Cada trator e cada máquina entregue é um passo a mais para fortalecer o campo e garantir que nossas famílias tenham condições de produzir com dignidade”, ressaltou o senador.
Presente no evento, a coordenadora-executiva do Cedac, Alessandra Karla Silva, enfatizou o papel dos cursos e do fortalecimento técnico para as famílias assistidas com foco na agroecologia. “É totalmente possível produzir de forma responsável e equilibrada. Essa parceria é fundamental para o nosso trabalho, e eu espero que ela continue, porque é um projeto de longo prazo”, destacou.

A natureza das entidades
A principal parceira do Cedac na área de comercialização solidária e sustentável é a CoopCerrado, sigla do extenso nome da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros, Assentados e Guias Turísticos do Cerrado.
O diretor-executivo da CoopCerrado, Flávio Cardoso da Silva, também participou da solenidade de entrega do trator. Para ele, o Cedac e a CoopCerrado representam “a proteção da vida e da natureza”.
As duas instituições participam da Rede Armazém Agroecológico, considerada pelas ONGs parceiras uma estratégia de promoção da soberania alimentar e nutricional, conectando o campo e a cidade por meio de um circuito de produção agroecológica e comércio justo.
A defesa por alimentos saudáveis e pelos que fornecem esses produtos é reforçada nesta mensagem do Armazém Agroecológico: “Quem produz tem a garantia de uma venda direta, ou seja, mais próxima do consumidor. Já o consumidor terá, de forma acessível, alimentos saudáveis e isentos de agroquímicos”.
Os produtos fornecidos pelas famílias atendidas pelo Cecad são vendidos até para o exterior. Em novembro foi feita uma remessa de baru para os Emirados Árabes. Orgânicos certificados são ofertados no site Empório do Cerrado (emporiodocerrado.org.br), e em breve a ONG vai abrir dois pontos de venda solidária em Goiânia. Na extensa lista de produtos orgânicos destacam-se as polpas de frutas regionais, como pequi, baru, jatobá e hibisco, além de farinhas, castanhas, chás, conservas e cremes.












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