Guia abre caminho para incluir frutos do bioma na refeição dos estudantes
Redação AgroDF
15 dezembro 2025
Com o objetivo de integrar nutrição, sustentabilidade e desenvolvimento territorial no Distrito Federal, foi lançada a Nota técnica “Caminhos do Cerrado na Alimentação Escolar do DF”, um guia crucial para a inclusão de frutos nativos do bioma nos cardápios das escolas públicas.
O lançamento ocorreu no Centro de Excelência do Cerrado, no Jardim Botânico, durante o evento “Caminhos do Cerrado na Alimentação Escolar”, realizado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) e parceiros na tarde da última quinta-feira (11).
A iniciativa reuniu pesquisadores, gestores públicos, nutricionistas, agricultores familiares e representantes da sociedade civil para discutir as melhores estratégias de incorporação desses produtos nas refeições escolares.
Desafios a serem superados
Embora o lançamento da publicação represente um passo estratégico para que o Governo do Distrito Federal utilize seu poder de compra institucional para fomentar a economia local e garantir refeições mais nutritivas, o encontro finalizou com um debate focado nos desafios para a efetivação do Cerrado na alimentação escolar.
Entre os obstáculos identificados nos debates, destacam-se: o desconhecimento do bioma e de sua sociobiodiversidade pelo corpo técnico e pela comunidade escolar; a falta de integração entre os atores envolvidos (gestores, nutricionistas, merendeiras); a ausência dos produtos do Cerrado nos editais de compras públicas; e a carência de equipamentos adequados para o processamento e a conservação desses alimentos nas escolas.
Lei distrital
Apesar dos obstáculos apontados nos debates, em 24 de janeiro de 2023 a governadora em exercício Celina Leão sancionou a Lei nº 7.228, que altera a legislação sobre alimentação escolar (Lei nº 5.771/2016). A nova lei prioriza a compra de frutos e produtos nativos do Cerrado, além de alimentos orgânicos, diretamente da agricultura familiar e de comunidades tradicionais para a merenda escolar.
Essa lei visa fortalecer o produtor local e a cultura alimentar regional, oferecendo alimentos mais saudáveis e extraídos do Cerrado. Baru, pequi, buriti, mangaba, cagaita e cajuzinho do cerrado são alguns exemplos de frutos nativos do bioma, que podem garantir a diversificação e o enriquecimento nutricional das merendas oferecidas nas escolas da rede pública do DF.
Biodiversidade à mesa
O documento lançado pelo IPEDF visa promover refeições que sejam mais nutritivas e culturalmente conectadas ao território do DF. Os protagonistas dessa proposta são frutos nativos do Cerrado, ricos em vitaminas, proteínas e minerais. Entre as espécies destacadas e consideradas prioritárias estão o pequi, baru, jatobá, cagaita e mangaba.
A inclusão desses alimentos, classificados como produtos florestais não madeireiros (PFNMs), possui um papel educativo fundamental. Ao serem servidos, eles aproximam os estudantes da cultura alimentar local e reforçam a importância da preservação do Cerrado.
A nota técnica atua como um guia de apoio essencial para a incorporação dos PFNMs nos cardápios das redes públicas e conveniadas. Além disso, a iniciativa reforça o alinhamento com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que no mínimo 30% dos recursos destinados à alimentação escolar sejam utilizados na compra de produtos da agricultura familiar, incentivando a aquisição de itens da sociobiodiversidade.
Apoio e viabilidade
A Embrapa Cerrados teve participação destacada no debate, sendo representada pela pesquisadora Helenice Gonçalves, que apresentou o histórico de atuação da empresa com espécies frutíferas nativas. A Embrapa também forneceu suporte financeiro e logístico para a aquisição dos produtos servidos durante o encontro, por meio de seus programas de agroinovação.
O estudo que deu origem à nota técnica integra o Projeto Caminhos da Restauração: Valoração de Produtos Florestais Não Madeireiros do Cerrado. Segundo Werner Vieira, diretor da Diretoria de Estudos e Políticas Ambientais e Territoriais (DEPAT), o estudo se consolida como um marco estratégico para o Distrito Federal, orientando políticas públicas, fortalecendo a agricultura familiar e contribuindo efetivamente para a conservação do bioma.
A viabilidade da inclusão dos frutos foi comprovada por uma equipe do IPEDF, que visitou experiências bem-sucedidas em municípios goianos como Cavalcante e Alto Paraíso. Em Cavalcante, chamadas públicas já incluíram itens como a castanha do baru, farinha de jatobá e polpa de pequi, alcançando a adesão de produtores tradicionais e assentados da reforma agrária.












COMENTÁRIOS